terça-feira, 9 de abril de 2019

O que o "rosa" me ensinou

     Começando esse texto pelo fim, à la Brás Cubas, posso dizer, de forma bem pomposa, que o rosa me mostrou com intensa nitidez e me ensinou mais sobre a mulher que eu descobri morar em mim.
  O que parece um clichezão feminista, na verdade, é puramente autoconhecimento e autoestima, que deveriam ser melhor desenvolvidos por todos. 
     Pra esclarecer: em janeiro, pintei o cabelo de rosa, realizando, com isso, o sonho que eu tinha desde os 12 anos de fazer mechas sereístas. Acontece que, na ânsia de tentar decidir o que fazer do futuro, mudar de cidade e ingressar numa carreira que exige certo formalismo, esse sonho foi pra geladeira. Ainda bem que depois de algumas reflexões dantescas acerca da vida como um todo, eu decidi (com ajuda do meu ascendente em sagitário) não sobrecarregar as coisas e obrigações com energias tão pesadas e resolvi também mentalizar que "eu posso fazer o que eu quiser". E eu não imaginava que esse direcionamento de energias fosse me trazer tantas sensações esclarecedoras e, na maioria das vezes, boas.
      Os requisitos eu tinha: cabelo, coragem, dinheiro e tempo livre. Daí só fui no salão e externei a vontade castrada por anos. Costumo dizer que o processo de descoloração e pintura foi como 5 horas de terapia, que no começo só conseguimos pensar "o que essa pessoa vai achar de mim?", mas que depois se transforma numa espécie de "ah, agora já falei mesmo, pelo menos aliviou...". O medo do que iam pensar deu lugar à aceitação. E nada como transformar um conflito em calmaria... 
     Uma das sensações que mais gostei, também, de sentir foi a de ver a transformação das caras de susto da minha família em expressões que convergiam para o que eu tava sentindo "ela pode mesmo fazer o que ela quiser". Mesmo que de forma micro, essa mensagem vai sendo consolidada todo dia mais um pouco e a ideia de que somos donos da nossa vida e do nosso corpo vai ganhando espaço, trocando de lugar com as frases "eu nunca pensei que terias coragem", "vais chocar as pessoas", "não entendo porque gastas teu dinheiro com coisas desse tipo". 
    "Ah, mas foi só um cabelo pintado". Daí eu te faço refletir sobre o fato de existirem as pessoas que enxergam um copo meio cheio e as que veem um copo meio vazio. Pra uns pode ser só isso mesmo, mas eu vejo mais e sempre busco ver ainda além. Afinal, que graça teria se a vida fosse tão literal e eu não pudesse descortinar tanta coisa mágica nas pequenas atitudes?
         Antes de devanear mais, acho válido destacar que o cabelo em cor fantasia apurou ainda, inclusive, a minha sensibilidade de percepção em relação aos olhares das pessoas. Era bem nítido a reprovação, o fingimento, os elogios sinceros e os feitos por educação, a admiração e a apatia. Fiz julgamentos também daquele tipo que separa pessoas em potes: aquele dos que ligam demais pra aparência, aquele dos que aprenderam a valorizar o que a pessoa é, aquele dos que queriam fazer o mesmo mas não têm coragem, aquele dos que simplesmente não ligam, aquele dos que acham um absurdo alguém se sentir livre pra romper padrões etc.
      No fim das contas, o mais legal mesmo é se permitir lembrar que quase tudo que te faz se sentir melhor e amplia tuas perspectivas, vale a pena. Melhor ainda é, mesmo com o cabelo já desbotando, saber ver beleza na cor de algodão-doce e no impulso que te levou a construir mais esse pedacinho de memória.



Escrito por alguém que entendeu que o rosa quase disse "se fosse uma cobra, tinha te picado".

terça-feira, 9 de abril de 2019

O que o "rosa" me ensinou

     Começando esse texto pelo fim, à la Brás Cubas, posso dizer, de forma bem pomposa, que o rosa me mostrou com intensa nitidez e me ensinou mais sobre a mulher que eu descobri morar em mim.
  O que parece um clichezão feminista, na verdade, é puramente autoconhecimento e autoestima, que deveriam ser melhor desenvolvidos por todos. 
     Pra esclarecer: em janeiro, pintei o cabelo de rosa, realizando, com isso, o sonho que eu tinha desde os 12 anos de fazer mechas sereístas. Acontece que, na ânsia de tentar decidir o que fazer do futuro, mudar de cidade e ingressar numa carreira que exige certo formalismo, esse sonho foi pra geladeira. Ainda bem que depois de algumas reflexões dantescas acerca da vida como um todo, eu decidi (com ajuda do meu ascendente em sagitário) não sobrecarregar as coisas e obrigações com energias tão pesadas e resolvi também mentalizar que "eu posso fazer o que eu quiser". E eu não imaginava que esse direcionamento de energias fosse me trazer tantas sensações esclarecedoras e, na maioria das vezes, boas.
      Os requisitos eu tinha: cabelo, coragem, dinheiro e tempo livre. Daí só fui no salão e externei a vontade castrada por anos. Costumo dizer que o processo de descoloração e pintura foi como 5 horas de terapia, que no começo só conseguimos pensar "o que essa pessoa vai achar de mim?", mas que depois se transforma numa espécie de "ah, agora já falei mesmo, pelo menos aliviou...". O medo do que iam pensar deu lugar à aceitação. E nada como transformar um conflito em calmaria... 
     Uma das sensações que mais gostei, também, de sentir foi a de ver a transformação das caras de susto da minha família em expressões que convergiam para o que eu tava sentindo "ela pode mesmo fazer o que ela quiser". Mesmo que de forma micro, essa mensagem vai sendo consolidada todo dia mais um pouco e a ideia de que somos donos da nossa vida e do nosso corpo vai ganhando espaço, trocando de lugar com as frases "eu nunca pensei que terias coragem", "vais chocar as pessoas", "não entendo porque gastas teu dinheiro com coisas desse tipo". 
    "Ah, mas foi só um cabelo pintado". Daí eu te faço refletir sobre o fato de existirem as pessoas que enxergam um copo meio cheio e as que veem um copo meio vazio. Pra uns pode ser só isso mesmo, mas eu vejo mais e sempre busco ver ainda além. Afinal, que graça teria se a vida fosse tão literal e eu não pudesse descortinar tanta coisa mágica nas pequenas atitudes?
         Antes de devanear mais, acho válido destacar que o cabelo em cor fantasia apurou ainda, inclusive, a minha sensibilidade de percepção em relação aos olhares das pessoas. Era bem nítido a reprovação, o fingimento, os elogios sinceros e os feitos por educação, a admiração e a apatia. Fiz julgamentos também daquele tipo que separa pessoas em potes: aquele dos que ligam demais pra aparência, aquele dos que aprenderam a valorizar o que a pessoa é, aquele dos que queriam fazer o mesmo mas não têm coragem, aquele dos que simplesmente não ligam, aquele dos que acham um absurdo alguém se sentir livre pra romper padrões etc.
      No fim das contas, o mais legal mesmo é se permitir lembrar que quase tudo que te faz se sentir melhor e amplia tuas perspectivas, vale a pena. Melhor ainda é, mesmo com o cabelo já desbotando, saber ver beleza na cor de algodão-doce e no impulso que te levou a construir mais esse pedacinho de memória.



Escrito por alguém que entendeu que o rosa quase disse "se fosse uma cobra, tinha te picado".

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