sábado, 29 de dezembro de 2018

Não acredita em tudo o que te contam

     Eu bem achava que as pessoas que me cercavam e me amavam tinham razão em tudo o que diziam e sempre estariam ali para me aconselhar e abrir espaço na vida para que eu pudesse passar tranquila. O que eu não sabia era o significado de amor. O que eu não conhecia era essas pessoas direito. O que eu não entendia era que a vida não era algo que se ajeita como massinha de modelar. O que não me contaram é que nem todos que nos amam estão bem resolvidos e situados no mundo. 
     Aqueles em quem mais confiamos carregam bagagens que talvez não os tenham permitido enxergar a vida de forma nítida. Mas não significa que não ser dotado dessa clareza tenha a ver com ausência de amor. O amor que eles nos deram era o amor que eles entendiam como sendo amor. Acharam que o formato de amor deles também caberia em nós. 
     Tomei essa última reflexão como base para um princípio de perdão.
     Ouvi muito "quem ama, cuida", "quem não briga, não se preocupa", "se ele não quer estar do seu lado o tempo todo, ele não gosta de você", "você precisa ser agradável, ou vai morrer sozinha". E acreditei que isso (entre muitas outras coisas não citadas aqui) era certo. Cheguei até a espalhar essas informações em forma de conselho e de maturidade falsa. Entendia que se pessoas que eu amava me diziam isso, era obrigação passar adiante para os que eu achava amar. Briguei por essas ideias, gritei, surtei e me afastei de pessoas muito queridas por não se moldarem no que eu tinha acatado como verdade.
     Até que eu não recebi mais cuidado de quem dizia me amar, descobri existirem outras formas de demonstrar preocupação, aprendi que valorizar solitude não é sinônimo de desamor com o resto do mundo e notei que eu não precisava de aprovação de muita gente para ser feliz. Isso me transformou. Mudou a minha forma de ver o mundo (por dentro e por fora). Mudou a minha relação com as pessoas que integram meu convívio social e tem curado aos poucos uma miopia misturada com astigmatismo que eu nem sabia que tinha.
     O fato de ter transformado e mudado não quer dizer que tenha sido ótimo. Pelo menos, não por enquanto. Até mesmo porque eu tenho tendências conformistas e o processo de desconstrução - esperar que o óculos cure as deformidades - não é muito agradável. Só que o lado bom de tudo isso é que uma vida novinha recomeça quando decidimos encará-lo. 


Escrito por alguém que, agora, prega que em tempo de fake news, devemos duvidar até da nossa sombra.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Quantos sapos conseguimos engolir por dia?

     Se tiverem alguma informação nutricional sobre isso, me avisem. Engulo muitos diariamente e não queria ter "deglutição de sapos" como causa mortis. Com isso, recordo das frases que minha avó diria se lesse isso: "o que não mata, engorda". 
     Deve ser por isso também que engordei esse ano.
     A concentração de energias tem que estar suficientemente voltada para o que é positivo ou em objetivos consistentes e grandes para evitar uma reação drástica diante do resto ao redor. Essa é a minha dica e o que venho praticando há 10 (dez) anos mais ou menos. Tem funcionado, considerando que não atentei criminalmente contra a vida de ninguém ainda.
     É válido destacar que nunca convivi com pessoas muito maduras ou que tivessem a saúde mental intacta, logo, situações conflitantes foram meu berço e fizeram morada em mim intrinsecamente. O fato de dificilmente me sentir em total pertencimento em relação aos ambientes onde morei, talvez seja sinal de sanidade (e eu espero mesmo que sim). Isso fez com que a minha vontade de manter a "cabeça no lugar" só aumentasse a cada ano completado e a cada reorganização de ideias e experiências. Também para evitar repetir ações fracassadas já vivenciadas indiretamente com pessoas que eu gosto ou tenho vínculo sanguíneo.
     O foco desse desabafo é lembrar a mim mesma de continuar nesse caminho e sempre internalizar que os problemas dos outros não são nossos. Não precisamos naturalmente abarcar todos os revés que pessoas que amamos carregam consigo. Podemos ser empáticos sem nos perder ou nos afogar em cargas que não nos pertencem.
     Recentemente, inclusive, pedi a uma pessoa que eu amo que não me contasse mais nada sobre determinado problema. Fiz esse pedido porque me machucava muito ouvir relatos desastrosos e não poder fazer nada (ainda) para resolver ou amenizar. Há, decerto, egoísmo em agir dessa forma, mas é isso ou se permitir estar mais propensa a sofrimentos e mutilações mentais desnecessárias (inclusive até Buda deixou registrado que "seu pior inimigo não consegue te ferir tanto quando os teus próprios pensamentos"). O amor próprio, por vezes, é egoísta, mas é ele que nos move e evita involuções. 
     Vale lembrar que, por mais que a pessoa que eu impedi de continuar me relatando complicações não compreenda, permaneço fazendo esforços diários para um dia poder ajudar ela e outros. A partir disso, é evidente que, apesar de muitos não entenderem as motivações de alguns atos nossos, concentrar esforços para explicar aos outros a lógica do que fazemos, significa menos concentração de energia no processo de engolir os sapos que invadem a nossa bolha de maneira inconveniente. Não podemos acudir ou acolher se estamos enfadados ou de "boca cheia", porque dessa forma temos um convite à autodestruição. Deixo, então, a lembrança de que ajudamos também dando exemplos com a forma que agimos em meio às tribulações. 


Escrito por alguém que está aprendendo a temperar os sapos que precisa engolir e a mandar alguns de volta para o lugar de onde nunca deveriam ter saído.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Meu corpo é político

     Antes de qualquer coisa, esse título, na verdade, dá nome a um documentário (de Aline Riff) que evidencia a luta trans no Brasil por espaço, oportunidades e direitos. A crítica por trás dessa frase gira em torno da etimologia da palavra "política", que, segundo a própria pobre estigmatizada Wikipédia, tem origem nos tempos em que as pessoas se organizavam em cidades-estados gregas denominadas "pólis". Daí derivariam palavras como "politikós", que significa "dos cidadãos/pertencente aos cidadãos", até chegar no que a chamamos hoje. Portanto, a afirmação de que um corpo trans é um corpo político, reafirma que os transexuais são de igual forma cidadãos e, por isso, devem ter plenos direitos de integrar a sociedade em sua plenitude.
     Manuela D'Ávila, que concorreu à vice-presidência nas eleições desse ano ao lado de Haddad, usou também uma blusa (da marca "Peita" - www.peita.me) com essa frase, fortalecendo a ideia de que as mulheres também não devem estar às margens da política, já que tudo e todos a compõem, especialmente nossos corpos e o modo como interferem neles. E é nesse ponto que eu queria chegar.
     2018 foi um ano de esclarecimento. A primeira vez que li o título dessa postagem numa camisa de uma candidata à presidência mulher, que depois se tornou vice, senti um puta orgulho e, a partir disso, inseri a mensagem nos meus dias seguintes. Eu estudei sobre partidos políticos, a criação deles e que corrente seguiam. Comparei governos, assisti todos os debates que pude, discuti (de forma pacífica e agressiva) com pessoas de dentro e de fora da minha bolha, fiz campanha para quem acreditei ser mais coerente, li propostas de governo, despertei minha consciência de classe e tentei - no meu lugar de fala - reconhecer todos os meus privilégios e identificar minha posição no mundo e no meu país.
     Muitos não me acompanharam nesse processo, ficando no meio do caminho, ou escandalizaram minha quase obsessão durante o período eleitoral. Normal. Pessoas que não estão na mesma vibração ou emanando energias similares que as nossas, vão naturalmente se afastar. E é bom que se afastem, porque quando eu digo que o MEU CORPO é político, estou colocando tudo de mim ali, não só algumas crenças e ideias distantes. Então, tudo o que falarem ou fizerem, vai me atingir, de forma direta ou não. Logo entendemos, portanto, que em termos políticos, uma opinião pode ser tão cruel quanto um ato direto de violência. Ambos poderiam se igualar, dependendo da intensidade e grau de potencial alcance.  
     Minhas ideologias talvez sejam bem óbvias, por causa do meu gosto por discussões e a exposição que fiz de ideias e posicionamentos nas redes sociais e em qualquer outro lugar sempre que tive oportunidade. Não tenho como esconder o meu corpo/minha voz. Estarei vulnerável calada ou falando. E falo porque não temo o que é meu por direito e justiça.  

Escrito por alguém que, enquanto digitava, se exaltou demais e pretende continuar o texto em outro momento...

domingo, 9 de setembro de 2018

Quero um amor maior que eu

     O Rogério Flausino cantou esse trecho da música se referindo a uma pessoa, eu acredito. Por outro lado, decidi interpretar e acreditar que eu também quero um amor maior que eu, mas quero amar uma coisa, não alguém. Amar tanto a ponto de acordar muito motivada todos os dias focada nisso, querendo vê-la e fazê-la. O alguém uma hora viria também, mas só suplementaria uma completude já instalada. 
     Nessa inquietude de querer encontrar algo que faça nossos olhos brilharem, a ponto de hipnotizar, deve ser normal se sentir muito ansioso e às vezes não tão pertencente a esse mundo, ainda mais quando só chove e parece nem existir vestígios de que o sol já está quase chegando.
     "Nossa, mas você parece tão decidida a respeito do que quer. Sempre pensei que você quisesse X". Saibam que esse tipo de afirmativa com tom de surpresa é quase uma afronta, porque faz cócegas na aflição dos outros. Não recomendo presumir que você sabe o que uma pessoa está sentindo ou querendo pro resto da vida dela. Antes disso, converte essa vontade pra si mesmo e pergunta qual é o seu maior objetivo de vida. Se você ficar minimamente pensativo, não use a frase do início desse parágrafo. Não provoque reflexões desgastantes nos outros. 
     Apesar disso, admiro quem já nasce com todas as metas de vida traçadas, até porque deve exigir muita harmonia de espírito.
     O porquê de querer amar tanto alguma coisa deve fazer parte dessa necessidade que temos de encontrar motivação e explicação pra tudo o que fazemos e nos acontece. E mesmo alguém tendo me dito que buscar explicação pra tudo me faria infeliz, eu continuo batendo nessa tecla, aceitei que ser assim faz parte do ceticismo incorporado em mim depois de certas experiências.
     Pode ter a ver também com o fato de que queremos uma base sólida pra nos apoiar e poder dizer que conquistamos X, porque alguém que não tem é considerado perdido, indevidamente, afinal, os "levados pela maré" também têm direito de ser feliz com esse estilo de vida, né? [rindo de nervoso]
     Já ouviram o belo discurso "eu amo tanto isso, vivo por isso e toda vez que faço tal coisa relacionada a esse meu amor parece que a minha alma transborda. Nunca pensei que fosse me fazer tão feliz"? A gente fica até se perguntando se essa plenitude é mesmo tão real e palpável, porque não experimentamos ainda e a curiosidade nos torna ainda mais céticos.
    "Isso pode ser ansiedade, tem tratamento". Por mais que alguém me tratasse da ansiedade, eu iria continuar procurando o que será que vai despertar em mim um amor que seja maior que eu. E se eu começar a me amar tanto a ponto de achar que nada seria maior que eu, pode ser outro problema ou a solução?
     Sigamos atrás de respostas e amor. Porque os céticos também têm fé.


Escrito por alguém que tá aprendendo a se amar muito e buscando cada vez mais explicações.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Na minha época

     Quando criei essa página, em 2009, as redes sociais mais usadas eram o MSN, Orkut, Skype e Tumblr (esta pelo pessoal mais cult e emo-gótico kkkk). Como eu nunca me encaixei totalmente em um só grupo de pessoas, tinha perfil em todas e fazia questão de conhecer um pouco de cada. Facebook e Instagram nem existiam, eu acho. Naquele tempo, como também não existia WhatsApp, era normal mandar SMS para os outros. Namorar por mensagem de texto era hilário. Como não existia a confirmação de leitura (duas setinhas ficando azul), a apreensão de esperar uma resposta do crush era triplicada. A emoção era maior. Bons tempos. 
     Quanto ao blog, era absurdamente mais popular que hoje. Acredito que muito tem a ver com a liquidez que a sociedade tem vivido e apropriou como característica. Quase todo mundo vai preferir um aplicativo que forneça fácil acesso pelo celular, que dê informações mastigadas, rápidas e compactas sobre o que tá acontecendo no mundo. Afinal, quem hoje tem disposição ou tempo pra escrever um texto em blog enquanto anda na rua ou espera na fila do médico? E por que a nossa opinião sobre as coisas seria tão relevante? Eu responderia essas perguntas de forma diferente da maioria e o fato de ter recuperado o blog já diz muito sobre isso.
     Eu sinto que cansei. Da superficialidade, da exposição com única finalidade fútil, das poucas palavras usadas quando poderíamos passar o dia inteiro falando sobre um assunto que merece ser aprofundado. 
     Ainda uso as redes sociais que danificaram a nossa concentração e a capacidade de nos mergulhar em coisas que realmente importam? Sim, claro, até porque largar tudo de repente seria uma mudança drástica demais para não provocar recaídas; e ainda sinto que se eu não estiver inserida naquele meio, vou estar perdendo alguma coisa ou deixando de saber algo que todo mundo sabe. Talvez esse raciocínio seja imaturo ou exatamente o que querem que sintamos, mas não vou fazer disso um problema maior do que já é.
    Voltar com o blog significa também voltar às minhas raízes, conversar comigo mesma, me conhecer de novo no meio das palavras que eu escrevo e ir muito além de um storie que vai sumir em 24 horas e todo mundo vai esquecer em minutos.
     Além disso, sempre que possível, faço questão de ressaltar que a nossa essência não cabe em fotos, status, stories, snaps, tweets e reposts dos outros. Muitos de nós apenas usam esses recursos pra se esconder. De antemão, eu sou #TeamSeMostra.
     

Escrito por alguém cansada de poucas palavras e que anseia por mais olho no olho, empatia e expressão de sentimentos.
     

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Por onde andei

     Criei esse blog quando eu tinha só 13 anos, em 2009; mas tudo começou com uma obsessão que eu sempre tive, desde os 5, por ler e escrever. Seguindo essa fissura, aos 12, portanto, eu escrevi um livro que não quis deixar a minha mãe publicar, porque era extremamente tímida e, nesse mesmo ano, uma professora que sempre seguia meus passos na escola me aconselhou a criar um blog, explicando que muitas pessoas introvertidas se sentiam mais seguras e confortáveis escrevendo seus devaneios, histórias e estórias, escondidas  no aparente refúgio encontrado atrás de um computador. Foi o melhor conselho que alguém poderia ter me dado naquele momento.
     De fato, usei muito o blog para desabafar, refletir e falar sobre os assuntos que eu mais gostava - música e moda (kkkk) -, mas depois de alguns anos o abandonei e não lembro o motivo. Deve ter sido porque passava muitas horas por dia jogando The Sims. Recentemente, então, senti vontade de recuperá-lo para usar da mesma forma de antes, afinal, a obsessão por ler e escrever não diminuiu muito e por alguns momentos penso que, mesmo que bem ilusoriamente, escrever atrás da tela do meu notebook me dá mais segurança que trocar ideias com algumas pessoas ("o homem é o lobo do próprio homem", não é?). 
     O gosto por letras, livros e escrita, me levou a cursar Direito e acabei vindo parar numa cidade do interior do Pará, mas isso é assunto para outras postagens. O mais importante é que o site foi repaginado, de forma que combine mais com o que eu me tornei 9 anos depois do primeiro post aqui, e teve suas antigas postagens devidamente transformadas em rascunho, para que eu possa ler e revivê-las em outros momentos sozinha (o que é um ótimo exercício de autoconhecimento).


Escrito por alguém que, apesar de 9 anos mais velha, continua gostando de usar parênteses expressivos e tentando esconder a ingenuidade e timidez da época ainda não curadas totalmente.

sábado, 29 de dezembro de 2018

Não acredita em tudo o que te contam

     Eu bem achava que as pessoas que me cercavam e me amavam tinham razão em tudo o que diziam e sempre estariam ali para me aconselhar e abrir espaço na vida para que eu pudesse passar tranquila. O que eu não sabia era o significado de amor. O que eu não conhecia era essas pessoas direito. O que eu não entendia era que a vida não era algo que se ajeita como massinha de modelar. O que não me contaram é que nem todos que nos amam estão bem resolvidos e situados no mundo. 
     Aqueles em quem mais confiamos carregam bagagens que talvez não os tenham permitido enxergar a vida de forma nítida. Mas não significa que não ser dotado dessa clareza tenha a ver com ausência de amor. O amor que eles nos deram era o amor que eles entendiam como sendo amor. Acharam que o formato de amor deles também caberia em nós. 
     Tomei essa última reflexão como base para um princípio de perdão.
     Ouvi muito "quem ama, cuida", "quem não briga, não se preocupa", "se ele não quer estar do seu lado o tempo todo, ele não gosta de você", "você precisa ser agradável, ou vai morrer sozinha". E acreditei que isso (entre muitas outras coisas não citadas aqui) era certo. Cheguei até a espalhar essas informações em forma de conselho e de maturidade falsa. Entendia que se pessoas que eu amava me diziam isso, era obrigação passar adiante para os que eu achava amar. Briguei por essas ideias, gritei, surtei e me afastei de pessoas muito queridas por não se moldarem no que eu tinha acatado como verdade.
     Até que eu não recebi mais cuidado de quem dizia me amar, descobri existirem outras formas de demonstrar preocupação, aprendi que valorizar solitude não é sinônimo de desamor com o resto do mundo e notei que eu não precisava de aprovação de muita gente para ser feliz. Isso me transformou. Mudou a minha forma de ver o mundo (por dentro e por fora). Mudou a minha relação com as pessoas que integram meu convívio social e tem curado aos poucos uma miopia misturada com astigmatismo que eu nem sabia que tinha.
     O fato de ter transformado e mudado não quer dizer que tenha sido ótimo. Pelo menos, não por enquanto. Até mesmo porque eu tenho tendências conformistas e o processo de desconstrução - esperar que o óculos cure as deformidades - não é muito agradável. Só que o lado bom de tudo isso é que uma vida novinha recomeça quando decidimos encará-lo. 


Escrito por alguém que, agora, prega que em tempo de fake news, devemos duvidar até da nossa sombra.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

Quantos sapos conseguimos engolir por dia?

     Se tiverem alguma informação nutricional sobre isso, me avisem. Engulo muitos diariamente e não queria ter "deglutição de sapos" como causa mortis. Com isso, recordo das frases que minha avó diria se lesse isso: "o que não mata, engorda". 
     Deve ser por isso também que engordei esse ano.
     A concentração de energias tem que estar suficientemente voltada para o que é positivo ou em objetivos consistentes e grandes para evitar uma reação drástica diante do resto ao redor. Essa é a minha dica e o que venho praticando há 10 (dez) anos mais ou menos. Tem funcionado, considerando que não atentei criminalmente contra a vida de ninguém ainda.
     É válido destacar que nunca convivi com pessoas muito maduras ou que tivessem a saúde mental intacta, logo, situações conflitantes foram meu berço e fizeram morada em mim intrinsecamente. O fato de dificilmente me sentir em total pertencimento em relação aos ambientes onde morei, talvez seja sinal de sanidade (e eu espero mesmo que sim). Isso fez com que a minha vontade de manter a "cabeça no lugar" só aumentasse a cada ano completado e a cada reorganização de ideias e experiências. Também para evitar repetir ações fracassadas já vivenciadas indiretamente com pessoas que eu gosto ou tenho vínculo sanguíneo.
     O foco desse desabafo é lembrar a mim mesma de continuar nesse caminho e sempre internalizar que os problemas dos outros não são nossos. Não precisamos naturalmente abarcar todos os revés que pessoas que amamos carregam consigo. Podemos ser empáticos sem nos perder ou nos afogar em cargas que não nos pertencem.
     Recentemente, inclusive, pedi a uma pessoa que eu amo que não me contasse mais nada sobre determinado problema. Fiz esse pedido porque me machucava muito ouvir relatos desastrosos e não poder fazer nada (ainda) para resolver ou amenizar. Há, decerto, egoísmo em agir dessa forma, mas é isso ou se permitir estar mais propensa a sofrimentos e mutilações mentais desnecessárias (inclusive até Buda deixou registrado que "seu pior inimigo não consegue te ferir tanto quando os teus próprios pensamentos"). O amor próprio, por vezes, é egoísta, mas é ele que nos move e evita involuções. 
     Vale lembrar que, por mais que a pessoa que eu impedi de continuar me relatando complicações não compreenda, permaneço fazendo esforços diários para um dia poder ajudar ela e outros. A partir disso, é evidente que, apesar de muitos não entenderem as motivações de alguns atos nossos, concentrar esforços para explicar aos outros a lógica do que fazemos, significa menos concentração de energia no processo de engolir os sapos que invadem a nossa bolha de maneira inconveniente. Não podemos acudir ou acolher se estamos enfadados ou de "boca cheia", porque dessa forma temos um convite à autodestruição. Deixo, então, a lembrança de que ajudamos também dando exemplos com a forma que agimos em meio às tribulações. 


Escrito por alguém que está aprendendo a temperar os sapos que precisa engolir e a mandar alguns de volta para o lugar de onde nunca deveriam ter saído.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Meu corpo é político

     Antes de qualquer coisa, esse título, na verdade, dá nome a um documentário (de Aline Riff) que evidencia a luta trans no Brasil por espaço, oportunidades e direitos. A crítica por trás dessa frase gira em torno da etimologia da palavra "política", que, segundo a própria pobre estigmatizada Wikipédia, tem origem nos tempos em que as pessoas se organizavam em cidades-estados gregas denominadas "pólis". Daí derivariam palavras como "politikós", que significa "dos cidadãos/pertencente aos cidadãos", até chegar no que a chamamos hoje. Portanto, a afirmação de que um corpo trans é um corpo político, reafirma que os transexuais são de igual forma cidadãos e, por isso, devem ter plenos direitos de integrar a sociedade em sua plenitude.
     Manuela D'Ávila, que concorreu à vice-presidência nas eleições desse ano ao lado de Haddad, usou também uma blusa (da marca "Peita" - www.peita.me) com essa frase, fortalecendo a ideia de que as mulheres também não devem estar às margens da política, já que tudo e todos a compõem, especialmente nossos corpos e o modo como interferem neles. E é nesse ponto que eu queria chegar.
     2018 foi um ano de esclarecimento. A primeira vez que li o título dessa postagem numa camisa de uma candidata à presidência mulher, que depois se tornou vice, senti um puta orgulho e, a partir disso, inseri a mensagem nos meus dias seguintes. Eu estudei sobre partidos políticos, a criação deles e que corrente seguiam. Comparei governos, assisti todos os debates que pude, discuti (de forma pacífica e agressiva) com pessoas de dentro e de fora da minha bolha, fiz campanha para quem acreditei ser mais coerente, li propostas de governo, despertei minha consciência de classe e tentei - no meu lugar de fala - reconhecer todos os meus privilégios e identificar minha posição no mundo e no meu país.
     Muitos não me acompanharam nesse processo, ficando no meio do caminho, ou escandalizaram minha quase obsessão durante o período eleitoral. Normal. Pessoas que não estão na mesma vibração ou emanando energias similares que as nossas, vão naturalmente se afastar. E é bom que se afastem, porque quando eu digo que o MEU CORPO é político, estou colocando tudo de mim ali, não só algumas crenças e ideias distantes. Então, tudo o que falarem ou fizerem, vai me atingir, de forma direta ou não. Logo entendemos, portanto, que em termos políticos, uma opinião pode ser tão cruel quanto um ato direto de violência. Ambos poderiam se igualar, dependendo da intensidade e grau de potencial alcance.  
     Minhas ideologias talvez sejam bem óbvias, por causa do meu gosto por discussões e a exposição que fiz de ideias e posicionamentos nas redes sociais e em qualquer outro lugar sempre que tive oportunidade. Não tenho como esconder o meu corpo/minha voz. Estarei vulnerável calada ou falando. E falo porque não temo o que é meu por direito e justiça.  

Escrito por alguém que, enquanto digitava, se exaltou demais e pretende continuar o texto em outro momento...

domingo, 9 de setembro de 2018

Quero um amor maior que eu

     O Rogério Flausino cantou esse trecho da música se referindo a uma pessoa, eu acredito. Por outro lado, decidi interpretar e acreditar que eu também quero um amor maior que eu, mas quero amar uma coisa, não alguém. Amar tanto a ponto de acordar muito motivada todos os dias focada nisso, querendo vê-la e fazê-la. O alguém uma hora viria também, mas só suplementaria uma completude já instalada. 
     Nessa inquietude de querer encontrar algo que faça nossos olhos brilharem, a ponto de hipnotizar, deve ser normal se sentir muito ansioso e às vezes não tão pertencente a esse mundo, ainda mais quando só chove e parece nem existir vestígios de que o sol já está quase chegando.
     "Nossa, mas você parece tão decidida a respeito do que quer. Sempre pensei que você quisesse X". Saibam que esse tipo de afirmativa com tom de surpresa é quase uma afronta, porque faz cócegas na aflição dos outros. Não recomendo presumir que você sabe o que uma pessoa está sentindo ou querendo pro resto da vida dela. Antes disso, converte essa vontade pra si mesmo e pergunta qual é o seu maior objetivo de vida. Se você ficar minimamente pensativo, não use a frase do início desse parágrafo. Não provoque reflexões desgastantes nos outros. 
     Apesar disso, admiro quem já nasce com todas as metas de vida traçadas, até porque deve exigir muita harmonia de espírito.
     O porquê de querer amar tanto alguma coisa deve fazer parte dessa necessidade que temos de encontrar motivação e explicação pra tudo o que fazemos e nos acontece. E mesmo alguém tendo me dito que buscar explicação pra tudo me faria infeliz, eu continuo batendo nessa tecla, aceitei que ser assim faz parte do ceticismo incorporado em mim depois de certas experiências.
     Pode ter a ver também com o fato de que queremos uma base sólida pra nos apoiar e poder dizer que conquistamos X, porque alguém que não tem é considerado perdido, indevidamente, afinal, os "levados pela maré" também têm direito de ser feliz com esse estilo de vida, né? [rindo de nervoso]
     Já ouviram o belo discurso "eu amo tanto isso, vivo por isso e toda vez que faço tal coisa relacionada a esse meu amor parece que a minha alma transborda. Nunca pensei que fosse me fazer tão feliz"? A gente fica até se perguntando se essa plenitude é mesmo tão real e palpável, porque não experimentamos ainda e a curiosidade nos torna ainda mais céticos.
    "Isso pode ser ansiedade, tem tratamento". Por mais que alguém me tratasse da ansiedade, eu iria continuar procurando o que será que vai despertar em mim um amor que seja maior que eu. E se eu começar a me amar tanto a ponto de achar que nada seria maior que eu, pode ser outro problema ou a solução?
     Sigamos atrás de respostas e amor. Porque os céticos também têm fé.


Escrito por alguém que tá aprendendo a se amar muito e buscando cada vez mais explicações.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Na minha época

     Quando criei essa página, em 2009, as redes sociais mais usadas eram o MSN, Orkut, Skype e Tumblr (esta pelo pessoal mais cult e emo-gótico kkkk). Como eu nunca me encaixei totalmente em um só grupo de pessoas, tinha perfil em todas e fazia questão de conhecer um pouco de cada. Facebook e Instagram nem existiam, eu acho. Naquele tempo, como também não existia WhatsApp, era normal mandar SMS para os outros. Namorar por mensagem de texto era hilário. Como não existia a confirmação de leitura (duas setinhas ficando azul), a apreensão de esperar uma resposta do crush era triplicada. A emoção era maior. Bons tempos. 
     Quanto ao blog, era absurdamente mais popular que hoje. Acredito que muito tem a ver com a liquidez que a sociedade tem vivido e apropriou como característica. Quase todo mundo vai preferir um aplicativo que forneça fácil acesso pelo celular, que dê informações mastigadas, rápidas e compactas sobre o que tá acontecendo no mundo. Afinal, quem hoje tem disposição ou tempo pra escrever um texto em blog enquanto anda na rua ou espera na fila do médico? E por que a nossa opinião sobre as coisas seria tão relevante? Eu responderia essas perguntas de forma diferente da maioria e o fato de ter recuperado o blog já diz muito sobre isso.
     Eu sinto que cansei. Da superficialidade, da exposição com única finalidade fútil, das poucas palavras usadas quando poderíamos passar o dia inteiro falando sobre um assunto que merece ser aprofundado. 
     Ainda uso as redes sociais que danificaram a nossa concentração e a capacidade de nos mergulhar em coisas que realmente importam? Sim, claro, até porque largar tudo de repente seria uma mudança drástica demais para não provocar recaídas; e ainda sinto que se eu não estiver inserida naquele meio, vou estar perdendo alguma coisa ou deixando de saber algo que todo mundo sabe. Talvez esse raciocínio seja imaturo ou exatamente o que querem que sintamos, mas não vou fazer disso um problema maior do que já é.
    Voltar com o blog significa também voltar às minhas raízes, conversar comigo mesma, me conhecer de novo no meio das palavras que eu escrevo e ir muito além de um storie que vai sumir em 24 horas e todo mundo vai esquecer em minutos.
     Além disso, sempre que possível, faço questão de ressaltar que a nossa essência não cabe em fotos, status, stories, snaps, tweets e reposts dos outros. Muitos de nós apenas usam esses recursos pra se esconder. De antemão, eu sou #TeamSeMostra.
     

Escrito por alguém cansada de poucas palavras e que anseia por mais olho no olho, empatia e expressão de sentimentos.
     

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Por onde andei

     Criei esse blog quando eu tinha só 13 anos, em 2009; mas tudo começou com uma obsessão que eu sempre tive, desde os 5, por ler e escrever. Seguindo essa fissura, aos 12, portanto, eu escrevi um livro que não quis deixar a minha mãe publicar, porque era extremamente tímida e, nesse mesmo ano, uma professora que sempre seguia meus passos na escola me aconselhou a criar um blog, explicando que muitas pessoas introvertidas se sentiam mais seguras e confortáveis escrevendo seus devaneios, histórias e estórias, escondidas  no aparente refúgio encontrado atrás de um computador. Foi o melhor conselho que alguém poderia ter me dado naquele momento.
     De fato, usei muito o blog para desabafar, refletir e falar sobre os assuntos que eu mais gostava - música e moda (kkkk) -, mas depois de alguns anos o abandonei e não lembro o motivo. Deve ter sido porque passava muitas horas por dia jogando The Sims. Recentemente, então, senti vontade de recuperá-lo para usar da mesma forma de antes, afinal, a obsessão por ler e escrever não diminuiu muito e por alguns momentos penso que, mesmo que bem ilusoriamente, escrever atrás da tela do meu notebook me dá mais segurança que trocar ideias com algumas pessoas ("o homem é o lobo do próprio homem", não é?). 
     O gosto por letras, livros e escrita, me levou a cursar Direito e acabei vindo parar numa cidade do interior do Pará, mas isso é assunto para outras postagens. O mais importante é que o site foi repaginado, de forma que combine mais com o que eu me tornei 9 anos depois do primeiro post aqui, e teve suas antigas postagens devidamente transformadas em rascunho, para que eu possa ler e revivê-las em outros momentos sozinha (o que é um ótimo exercício de autoconhecimento).


Escrito por alguém que, apesar de 9 anos mais velha, continua gostando de usar parênteses expressivos e tentando esconder a ingenuidade e timidez da época ainda não curadas totalmente.

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