sábado, 29 de dezembro de 2018

Não acredita em tudo o que te contam

     Eu bem achava que as pessoas que me cercavam e me amavam tinham razão em tudo o que diziam e sempre estariam ali para me aconselhar e abrir espaço na vida para que eu pudesse passar tranquila. O que eu não sabia era o significado de amor. O que eu não conhecia era essas pessoas direito. O que eu não entendia era que a vida não era algo que se ajeita como massinha de modelar. O que não me contaram é que nem todos que nos amam estão bem resolvidos e situados no mundo. 
     Aqueles em quem mais confiamos carregam bagagens que talvez não os tenham permitido enxergar a vida de forma nítida. Mas não significa que não ser dotado dessa clareza tenha a ver com ausência de amor. O amor que eles nos deram era o amor que eles entendiam como sendo amor. Acharam que o formato de amor deles também caberia em nós. 
     Tomei essa última reflexão como base para um princípio de perdão.
     Ouvi muito "quem ama, cuida", "quem não briga, não se preocupa", "se ele não quer estar do seu lado o tempo todo, ele não gosta de você", "você precisa ser agradável, ou vai morrer sozinha". E acreditei que isso (entre muitas outras coisas não citadas aqui) era certo. Cheguei até a espalhar essas informações em forma de conselho e de maturidade falsa. Entendia que se pessoas que eu amava me diziam isso, era obrigação passar adiante para os que eu achava amar. Briguei por essas ideias, gritei, surtei e me afastei de pessoas muito queridas por não se moldarem no que eu tinha acatado como verdade.
     Até que eu não recebi mais cuidado de quem dizia me amar, descobri existirem outras formas de demonstrar preocupação, aprendi que valorizar solitude não é sinônimo de desamor com o resto do mundo e notei que eu não precisava de aprovação de muita gente para ser feliz. Isso me transformou. Mudou a minha forma de ver o mundo (por dentro e por fora). Mudou a minha relação com as pessoas que integram meu convívio social e tem curado aos poucos uma miopia misturada com astigmatismo que eu nem sabia que tinha.
     O fato de ter transformado e mudado não quer dizer que tenha sido ótimo. Pelo menos, não por enquanto. Até mesmo porque eu tenho tendências conformistas e o processo de desconstrução - esperar que o óculos cure as deformidades - não é muito agradável. Só que o lado bom de tudo isso é que uma vida novinha recomeça quando decidimos encará-lo. 


Escrito por alguém que, agora, prega que em tempo de fake news, devemos duvidar até da nossa sombra.

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sábado, 29 de dezembro de 2018

Não acredita em tudo o que te contam

     Eu bem achava que as pessoas que me cercavam e me amavam tinham razão em tudo o que diziam e sempre estariam ali para me aconselhar e abrir espaço na vida para que eu pudesse passar tranquila. O que eu não sabia era o significado de amor. O que eu não conhecia era essas pessoas direito. O que eu não entendia era que a vida não era algo que se ajeita como massinha de modelar. O que não me contaram é que nem todos que nos amam estão bem resolvidos e situados no mundo. 
     Aqueles em quem mais confiamos carregam bagagens que talvez não os tenham permitido enxergar a vida de forma nítida. Mas não significa que não ser dotado dessa clareza tenha a ver com ausência de amor. O amor que eles nos deram era o amor que eles entendiam como sendo amor. Acharam que o formato de amor deles também caberia em nós. 
     Tomei essa última reflexão como base para um princípio de perdão.
     Ouvi muito "quem ama, cuida", "quem não briga, não se preocupa", "se ele não quer estar do seu lado o tempo todo, ele não gosta de você", "você precisa ser agradável, ou vai morrer sozinha". E acreditei que isso (entre muitas outras coisas não citadas aqui) era certo. Cheguei até a espalhar essas informações em forma de conselho e de maturidade falsa. Entendia que se pessoas que eu amava me diziam isso, era obrigação passar adiante para os que eu achava amar. Briguei por essas ideias, gritei, surtei e me afastei de pessoas muito queridas por não se moldarem no que eu tinha acatado como verdade.
     Até que eu não recebi mais cuidado de quem dizia me amar, descobri existirem outras formas de demonstrar preocupação, aprendi que valorizar solitude não é sinônimo de desamor com o resto do mundo e notei que eu não precisava de aprovação de muita gente para ser feliz. Isso me transformou. Mudou a minha forma de ver o mundo (por dentro e por fora). Mudou a minha relação com as pessoas que integram meu convívio social e tem curado aos poucos uma miopia misturada com astigmatismo que eu nem sabia que tinha.
     O fato de ter transformado e mudado não quer dizer que tenha sido ótimo. Pelo menos, não por enquanto. Até mesmo porque eu tenho tendências conformistas e o processo de desconstrução - esperar que o óculos cure as deformidades - não é muito agradável. Só que o lado bom de tudo isso é que uma vida novinha recomeça quando decidimos encará-lo. 


Escrito por alguém que, agora, prega que em tempo de fake news, devemos duvidar até da nossa sombra.

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